Equivocadamente aceita como
consequência natural de um trauma,
de uma doença ou do envelhecimento,
a dor, quando persistente,
pode se tornar a própria doença.
De forma geral, a dor é um sinal de alarme do organismo. Quando há algo errado, ele reage disparando um estímulo para o sistema nervoso central, dando o aviso. Mas um alarme só e bom se pode ser desligado. No caso da dor, isso se faz corrigindo a origem do problema. Dores - mesmo as agudas, causadas por lesão, cirurgia ou traumatismo - tem começo, meio e fim. Se isso não acontece, a dor vira crônica, torna-se a própria doença. Dores diárias ou intermitentes, que duram de três a seis meses ou mais, são consideradas crônicas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 30% das pessoas sofrem de dor crônica. O mal pode estar associado a processos dolorosos crônicos, como hérnia de disco, artrite, artrose e câncer, dentre outros. Mas também pode ser gerado ou intensificado como uma espécie de curto-circuito no sistema de alarme do corpo, que cria uma memória da dor, fazendo com que ela ocorra independentemente daquilo que a ocasionou.
A dor crônica afeta a qualidade de vida das pessoas, atrapalha ou impede atividades rotineiras e pode desencadear problemas como depressão, ansiedade e estresse. Também pode prejudicar os sistemas imunológico, cardíaco e respiratório e produzir alterações na pressão arterial e na capacidade motora. Além disso, quem tem dor crônica tende a não se alimentar bem, dorme mal e prejudica suas relações sociais. São condições que propiciam novas doenças.
O que fazer? O primeiro passo é rejeitar a idéia de que sentir dor é normal porque faz parte de um processo crônico, de cura ou de envelhecimento. Todo o tipo de dor - aguda ou crônica - requer atenção médica. Quando não pode ser curada, a dor pode ser tratada. Quando não pode ser eliminada, pode ser minimizada.
Mesmo no meio médico, a questão da dor é às vezes relevada - seja porque ela é considerada inerente à doença ou ao procedimento realizado, ou não há causa evidente para sua manifestação, ou até porque a dor é subjetiva, varia de paciente para paciente. Ainda que não se identifique uma causa, a atitude correta é: se a pessoa diz que tem dor, a dor existe. Alguns hospitais, além de contar com uma equipe especializada para tratar do problema, reconhecem a sua importância incluindo a dor como o quinto sinal vital, monitorado ao lado de pressão arterial, pulso, respiração e temperatura. Com base em uma escala, o próprio paciente atribui um grau à intendidade da sua dor para que a equipe possa programar os melhores cuidados para cada caso.
É ampla a gama de recursos para o tratamento. Dentre os medicamentos, estão os analgésicos, anti-inflamatórios, antidepressivos e opiodes (que, embora provoquem temor em leigos, não geram dependência quando adequadamente ministrados). Somam-se a eles técnicas de fisioterapia, laser, acupuntura, massagens e outras. Nos dias de hoje, só uma coisa pode fazer uma pessoa continuar sofrendo com a dor: a crença de que ela é simplesmente sintoma de algum outro problema e, portanto, normal. Sentir dor não é normal. E de maneira crônica, é doença - que precisa ser tratada como qualquer outra.